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EXPRESS: (meio) Minuto de sua Atenção

Kim Loeb

Updated: Jan 7, 2021

Este post é a adaptação de uma palestra dada a pais e professores da Escola Vértice em 21/10/2020.

Meu nome é Kim Loeb, sou formado em administração de empresas e trabalho com conteúdo infantil.

Há um tempo eu tenho um incômodo com o que eu chamava de “mundo barulhento” e a quantidade de exorbitante de distrações e interrupções no nosso dia a dia. Isso era a princípio um incômodo pessoal, mas não custou a perceber que se trata de uma epidemia mundial - especialmente quando se vê dados sobre ansiedade e aumento de diagnósticos de déficit de atenção, a questão fica ainda mais nítida.

Eu queria de alguma forma promover o silêncio e a reflexão, mas eu achava que isso talvez seria tarefa contraditória ao estar trabalhando com a produção de mais conteúdo, ou seja, mais estímulos visuais e sonoros. Enfim, se eu quisesse fazer parte da solução, o caminho seria entender o problema.

Após muito tempo mentalmente vagando em círculos, o começo da compreensão veio quando eu esbarrei na ONG “Center for Humane Technology” em 2018 - lá encontrei termos para incômodos que ainda não havia nomeado como conceitos. Desde aquele momento mergulhei de cabeça no estudo, saí da espiral de confusão e comecei a juntar conhecimento que foi extremamente importante para mim pessoalmente e acredito que possa ser importante para muitos outros também.

A questão se pauta em um recurso que acredito ser o mais importante na nossa humanidade: nossa atenção.

O PROBLEMA: Atenção é uma "mercadoria" que sempre foi disputada. Publicitários, políticos, professores, líderes religiosos, jornalistas, escritores e artistas (eu, aqui, agora)... a lista continua entre aqueles que precisam do seu tempo como influência e portanto moeda. A questão hoje é que o mercado está ficando tão evoluído e voraz ao ponto no qual estamos sofrendo o início de consequências que podem acabar sendo catastróficas a nós como indivíduos e sociedade.


Pare um momento e tente adivinhar quem possa ter dito as frases acima.



Há uma explicação mais aprofundada com fontes destas citações aqui.



FAÇA O QUE EU DIGO, NÃO O QUE EU FAÇO: A questão começa a ser mais suspeita quando vemos que executivos do vale do silício controlam o uso de tecnologia dos próprios filhos.


Antes de introduzir o conceito central do problema: o mercado extrativista da atenção; eu queria oferecer um momento de respiro ao leitor. Você sente o impacto de atenção esfarelada e apressada no seu dia a dia?












Voltemos:

A Economia da Atenção (Attention Economy) se trata grosseiramente do mercado da publicidade - não argumento aqui que há algo intrinsecamente errado com publicidade, afinal, nada mais natural que tentar vender o seu peixe.

No entanto, este mercado está evoluindo a tal ponto no qual começa a ser chamado de Economia Extrativista da Atenção (Extractive Attention Economy). A questão é o “extractive”, ou seja, quando os players tem meios e dados necessários para interromper o seu dia ou até manipular certos comportamentos para induzir a atenção de forma mais perniciosa.

Como diz Sany Parakilas, ex-funcionário do facebook: “o modelo de negócios é sugar o máximo de seu tempo e vender a anunciantes” - a métrica ideal a ser maximizada de muitas destas plataformas é justamente tempo de tela.

Q DA _UESTÃO: Não é de todo mal. Estas plataformas agregam um valor real incrível à sociedade: Google e YouTube, por exemplo, democratizaram o conhecimento como nunca antes visto - Facebook, apesar dos pesares, consegue ser uma plataforma incrível para juntar pessoas com base em interesses em comum.

No entanto, não se engane ao não termos taxa de matrícula ou mensalidade - estamos pagando um preço para usá-las, e talvez este preço seja mais alto que possamos compreender no momento.


Você pode achar que este é mais um sinal alarmista como os vários que vieram antes. Afinal, nada mais velho que o medo do novo...

Se é um mercado que existe há tanto tempo, sempre houveram os alarmistas. Mesmo que você pessoalmente discorde de motivos para alerta - pode ter certeza que esta é uma preocupação válida para um futuro próximo. O argumento está na imagem abaixo:

AVANÇOS TECNOLÓGICOS EXPONENCIAIS: Enquanto levaram 120 anos desde a revolução industrial até a invenção da lâmpada - duraram 90 anos para desenvolver a tecnologia para pousar na lua. Este ritmo continua, os próximos 10 anos nos apresentarão pulos muito maiores que os últimos 20.

Enquanto a tecnologia avança em ritmo exponencial, nossos cérebros ainda são essencialmente os mesmos desde que saímos das cavernas. Nossa vulnerabilidade aumenta com o avançar da tecnologia.


Enquanto as redes sociais nem eram possibilidade há poucas décadas, hoje elas sabem mais de você possivelmente que você mesmo (se ainda não hoje, não precisa ter dúvidas que em breve isso será realidade).


HÁ COMO RESISTIR?

Nós não estamos competindo pela nossa atenção contra somente um time de engenheiros, programadores, neurocientistas, designers, doutores, MBAs, PHDs... Estamos competindo individualmente contra todos estes e mais ainda bilhões de dólares investidos em maquinário e programação que se otimiza autonomamente.

"Estamos no maior experimento comportamental que o mundo já viu, você está sendo testado a todos os momentos, coisas como a cor do seu botão de like. Deveria ser esse tom de azul? Talvez um pouco mais vermelho? Testam você em diferentes horários, até escolherem o perfeito formato e perfeita cor que maximizam seu scrolling contínuo" Aza Raskin, designer do Vale do Silício e criador de alguns elementos que você pode reconhecer, como o scroll infinito.






CONCLUSÕES...por enquanto:


Nossa vida, mais do que medida em tempo, é medida na qualidade e onde é alocada a Atenção. A consciência sobre como usamos esse recurso é o resgate da vida, a sua alocação impensada ou manipulada por terceiros é o seu desperdício.

Entendo hoje que a minha vontade de incitar o silêncio e a reflexão, não se realizará através de um silêncio próprio. O que posso fazer é um ruído que clama por pausa, uma provocação, um convite para reflexão e quem sabe assim o silêncio pode ser cultivado individualmente.

No meio de uma enxame de conteúdo que faz mais barulho em nossas vidas - entretenimento passageiro, conteúdo oco, distrações que nos anestesiam da realidade da vida - com a mesma aparência, formato e cheiro, há produtos culturais de extrema importância, aqueles que promovem a reflexão. É a diferença entre o que nina e o que acorda.

O documentário "Dilema das Redes" faz um ótimo papel de iniciar o debate do Mercado Extrativista da Atenção com o público geral. É nisso que enxergo o poder do conteúdo cultural.

Vivemos hoje uma situação similar ao que foi visto antes com cigarros, fast food e sustentabilidade. Foram movimentos culturais e educativos que colocaram este assunto em pauta a serem discutidos na esfera privada e pública repensados em termos de valores, comportamento e regulamentação.

A reflexão não se cria a partir de um vácuo - a reflexão precisa ser promovida, provocada, compartilhada - espero que este artigo possa ajudar. Obrigado por sua atenção.


"Se, então, me pedissem o conselho mais importante que eu poderia dar, que eu considerava ser o mais útil aos homens de nosso século, eu simplesmente diria: em nome de Deus, pare um momento, cesse o seu trabalho, olhe à sua volta." Leo Tolstoi


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